domingo, 27 de janeiro de 2008

Sugestão para os apreciadores de música:




















FRANK ZAPPA


1988 - You Can't do that on Stage Anymore, vol. 2 - The Helsinki Concert


O único da série de seis discos de "You Can´t do that on Stage Anymore" que captura uma única apresentação.
O Concerto foi gravado em Helsinquia na Finlândia a 22/09/1974.

A banda é da fase do excelente álbum "Apostrophe", considerada por muitos como uma das mais competentes já comandadas por Frank Zappa: George Duke (teclados), Napoleon Murphy Brock (sax), Ruth Underwood (percussão/marimba), Tom Fowler (baixo) e Chester Thompson (bateria).
A performance é impressionante. Este faz parte do conjunto de discos que eu conheci e me levaram a publicar esta mensagem.
Ouçam "Dupree's Paradise" seguida de "Satumaa (Finnish Tango)" e comparem com qualquer coisa dos Wheather Report, Mahavishnu Orchestra, etc... Tem ainda boas versões de "Stinkfoot" e da "Inca Roads". Gosto também muito da "Room Service" e do solo de "Pygmy Twylyte".
É muito interessante a introdução de Montana (Whipping Floss) que começa com o dobro da velocidade normal e é interrompida duas vezes pelo Zappa, que reclama de bom humor, os erros da banda. Na segunda, a uma voz feminina diz algo ao fundo (provavelmente a percussionista Ruth Underwood) e o Zappa diz "Is too fast for you?". Depois, a música recomeça ao ritmo normal.

Excelentes músicos.

Ficha Técnica:

Tush Tush Tush (A Token Of My Extreme) - 02:48

Stinkfoot - 04:19

Inca Roads - 10:55

RDNZL - 08:42

Village Of The Sun - 04:35

Echidna's Arf (Of You) - 03:30

Don't You Ever Wash That Thing? - 04:56

Pygmy Twylyte - 08:22

Room Service - 06:23

The Idiot Bastard Son - 02:40

Cheepnis - 04:29

Approximate - 08:11

Dupree's Paradise - 24:00

Satumaa (Finnish Tango) (Mononen) - 03:51

T'Mershi Duween - 01:32

The Dog Breath Variations - 01:39

Uncle Meat - 02:22

Building A Girl - 01:01

Montana (Whipping Floss) - 10:15

Big Swifty - 02:18


Frank Zappa--vocal, guitarra

Napoleon Murphy Brock -- sax, vocal

George Duke -- teclado, vocal

Ruth Underwood -- percussão

Tom Fowler -- baixo

Chester Thompson -- bateria


http://www.fzdb.de/

www.zappa.com/

http://www.zappa-analysis.com/

Digital vs Analógico


A febre do vinil voltou e parece ter pegado de estaca. Multiplicam-se as lojas, as edições e, é claro, o consumo.

Mas eu, apesar dos lançamentos do mini-disc e dos cd, nunca coloquei os meus vinis de parte!

Há uns dias um cohecido meu perguntava-me se eu tinha determinado disco, que ele queria ouvir (o álbum "Physical Graphiti dos Led Zeppelin", para os mais curiosos). Eu disse-lhe que sim, que tinha, mas que era em LP e não em CD. Parecia que tinha falado em servo-croata. "Em disco? Mas... em vinil? Isso ainda existe?". Pois é, para espanto do tal rapaz e para espanto se calhar de alguns dos leitores deste texto, o vinil não só não morreu como recomenda-se mais do que nunca.

Actualmente a FNAC e outras lojas já estão a vender vinis ao público. No entanto a 'moda' parece estar a pegar pois cada vez mais pessoas parecem estar a aderir (pela primeira vez ou de novo) ao vinil.

Cabe aqui uma explicação sumária das diferenças entre o som analógico (presente, por exemplo, num disco em vinil) e o som digital (presente, por exemplo, num CD.) Sumária pois não é aqui o local apropriado para me alongar e, temo, por não ser um especialista na matéria.

O som é uma onda, ou melhor um conjunto de ondas que atravessam o espaço. Essas ondas são medidas em hertz, inicialmente, mas para o caso em kilohertz (kHz). O som vai, em termos leigos, de muito grave a muito agudo. A distância que vai do som mais agudo ao mais grave é gigantesca. Seja só voz humana ou uma orquestra de 200 pessoas, uma gravação áudio contém uma quantidade enorme de informação. Esta informação reporta-se a uma amplitude sonora IMENSA, e só estou a falar daquela que os humanos captam, que não é toda. Um disco em vinil, quando prensado numa boa fábrica e cujo material sonoro venha de boas fitas analógicas, contém TODA essa informação. Toda. Por isso, quando se ouve um bom vinil ouve-se TUDO o que a banda gravou. Tudo o que eles ou elas queriam que nós ouvissemos. Um mau vinil terá praticamente tudo também, simplesmente não com a clareza e o brilho original. Eis o som analógico.

E o som digital?

Bem, por 'digital', e neste caso específico, compreende-se informação processada informaticamente e convertida em linguagem binária (zeros e uns). Acontece que a informação ocupa ESPAÇO e a informação áudio ou vídeo ocupa mesmo MUITO espaço. Nos finais dos anos 70 os engenheiros da Phillips (holandesa) e da Sony (japonesa) tentavam desenvolver um sistema sonoro baseado num medium que fosse mais pequeno que o LP, comportasse tantos ou mais minutos de música e que cuja produção ficasse barata. Assim desenvolveram, mais ou menos a meias, o CD (compact-disc, o nome diz tudo), um suporte que permitia conter até 74 minutos de música com uma qualidade, afirmavam, perfeita, e melhor ainda, eterna. Tinhamos portanto som altamente e para a vida toda. Os primeiros anúncios para televisão aos CD's reforçavam esta mensagem até ao absurdo, colocando um cão a apanhar, com os dentes, um CD atirado pelo dono. Este colocava-o a seguir no leitor e o CD estava impecável. :) Mas o que faz o CD (ou melhor, o som digital) ser pior que o vinil? Bem, a questão é até bastante simples: o mapa não é o território. O som, como foi referido atrás, é quase infinito na sua amplitude. A informação digitalizada em 0's e 1's não pode conter toda essa informação porque se o fizesse cada CD levaria meia dúzia de minutos de música.

Assim sendo, o que é feita é uma AMOSTRAGEM digital, isto é, selecionam uma amplitude determinada (no caso do CD, 44 ou 48 kHz) e é só isso que vai parar ao CD. Tudo o resto é cortado. Tudo o resto. Assim, não admira que, em casos como os álbuns "Electric Ladyland" ou "Dark Side of The Moon", tenhamos mais sons no vinil do que no CD. Tão simples quanto isso. Seja como for, o mais usual é não faltarem sons nas músicas, mas antes a sensação que fica no ouvinte perante os dois suportes.

Os seres humanos, até prova em contrário, são analógicos, não são 'digitais', e por isso reagem melhor ao som analógico. Se ouvir o mesmo álbum, nas mesmas condições e com material de igual qualidade, muito provavelmente preferirá ouvir em vinil. Testes 'cegos' (isto é, sem que os testados soubessem qual era o CD e qual o vinil) tiveram os resultados que se esperaria - a grande maioria das pessoas prefere o vinil.

O som em vinil é quase sempre descrito como mais 'quente' e mais 'profundo'.

O som digital, quando comparado com o analógico, é descrito usualmente como mais 'frio' e 'linear'.

Num outro teste, feito em discotecas americanas, foi descoberto que os clientes ficavam até mais tarde naquelas em que eram utilizados discos em vinil em vez de CD's. A razão para isto é que de facto os 48 kHz da amostragem que é feita não chegam, pois não atingem as frequências mais altas e mais baixas, ficando-se pelas centrais. As frequências mais baixas (graves) são muitas vezes inaudíveis mas MEXEM connosco, definem a percepção do som, e ficar sem elas é não ter o quadro todo à nossa frente. Por fim, e apesar de ser uma razão talvez menor, há que referir o trabalho gráfico. Um LP é ENORME, e a capa do disco é GRANDE. As fotos dos ídolos são MAIORES e as letras não ficam em corpo 8! Em relação à aquisição de gira-discos e dos discos em si, o cenário está cada vez melhor. Algumas das megastores em Lisboa e Porto já começam a ter (e encomendam se o cliente pedir) as edições em vinil dos álbuns que vão saindo. Existem ainda lojas da especialidade, mas só nas grandes cidades. Quem tiver acesso à internet e um cartão de crédito, só precisa de ter dinheiro na conta. A maior parte das grandes lojas on-line tem uma secção bem recheada de vinil e existem, claro sites epecializados. Em relação ao 'hardware' :), está disponível nas lojas de alta-fidelidade (se bem que num hipermercado pode comprar um gira-discos sony por 75 euros), de 250 eiros até ao infinito. Se, tal como eu, não tiver ouvido de purista, qualquer gira-discos de qualidade serve.

O mercado em segunda mão também é para ter em conta, pois arranjam-se gira-discos clássicos EXCELENTES a uma parcela do preço que valem. Se depois de tudo isto não ficou convencido, ÓPTIMO!

O vinil de facto não presta e tudo o que tem a fazer é dar-me todos os LP's que tiver aí em casa que eu vou busca-los de borla. Sou amiguinho ou não sou?

Dizem que,por exemplo,as válvulas são coisas obsoletas, coisas do passado, mas e para áudio? Aí a história é outra, os valvulados são as melhores aparelhagens de som do mundo! Mais um ponto para os analógicos! Tenho uma última coisa a dizer... já ouviram falar de LP pirata? Mais um ponto para ele e para os analógicos!

sábado, 26 de janeiro de 2008

O nosso verdadeiro estádio.

A 1 de Dezembro de 1954, o Benfica inaugurou, pomposamente, o Estádio de Carnide. Só mais tarde lhe haveria de chamar da Luz. Joaquim Bogalho, o «homem do estádio», emocionou-se de tal modo que, para não desfalecer, teve de ser amparado pelos seus colegas de Direcção. Ribeiro dos Reis considerá-lo-ia, pela sua acção em busca do sonho... «o benfiquista número 1». E, naturalmente, houve futebol sobre o relvado ainda fresco. Ganhou o F. C. Porto ao Benfica por 3-1, como afinal, ganhara o Benfica ao F. C. Porto por 7-2 na inauguração das Antas. Enfim, festas trocadas... O festival de inauguração proporcionou uma receita de 1300 contos, a maior renda arrecadada até esse dia num espectáculo desportivo por um clube português.


Terceiro Anel: O Inferno da Luz

A direcção de Maurício Vieira de Brito não descurava a progressiva melhoria das instalações do clube e, após a inauguração da iluminação do Estádio, foi aberto aos adeptos o famoso "terceiro anel".

A nova bancada cedo se transformou na ilustração viva do carisma e da paixão que, desde então, se associam à "catedral" benfiquista.Como alguém escreveu com propriedade, o "terceiro anel" cedo foi visto como a "sagração de uma solidariedade", como o resultado de um esforço colectivo de uma geração de benfiquistas, à imagem da própria construção do Estádio. O novo "terceiro anel" funcionou sempre com uma espécie de décimo segundo jogador, um elemento que se viria a tornar decisivo em muitas e importantes vitórias do futebol benfiquista pelos tempos fora.

O causídico e antigo dirigente do clube, Alfredo Gaspar, descreveu no "Público" essa mística associada ao "inferno da Luz": "Era muito bonito, porque se choravam lágrimas de alegria, mas quem pegasse nelas e as atirasse ao ar, via que se transformavam no céu em pequeninas estrelas brilhantes.

Nesses momentos, os atletas do clube eram sublimes".

Construído com a ajuda e um enorme sacrifício de muitos sócios e simpatizantes do Benfica, a edificação desta obra fica registada como um marco que simboliza toda a grandeza e a enorme mística do clube mais popular de sempre em Portugal, um dos clubes a nível mundial com mais adeptos, ( se não for o maior), e um dos mais prestigiados de toda a Europa.

O nosso antigo estádio da Luz, quando chovia, fazia frio, sentavamo-nos em pedra, mas o estádio tinha bem mais gente a ver jogos do que nos estádios novos, pelo menos no caso do Estádio da Luz...

Que saudades...


Transcrevo aqui um belo texto de Mozer:

"É preciso sair do país para enxergar o prestígio e o tamanhão do Benfica em todo o mundo. Estive três anos em França, no Marselha, joguei num estádio fantástico, o Vélodrome, convivi com grandes jogadores como Papin e Waddle, mas o Benfica estará sempre no meu pensamento.Os meus companheiros de equipa não percebiam muito o meu entusiasmo pelo clube, já que sabiam pouco do futebol português, embora reconhecendo o tremendo historial do Benfica.
Durante os primeiros tempos tive de aturar os comentários de Papin, logo desde o início, sempre que jogávamos em casa.Uns dias antes de cada jogo, o Papin chegava para mim e me dizia: "Mozer, vais ver o que é um estádio cheio e um ambiente terrível."
Terrível para os outros. Não sei se o Papin dizia isso para me intimidar, já que era novo no clube e não percebia muito daquela conversa. Mas para mim, sempre pensava: "Este cara precisava de jogar no Maracanã ou no estádio da Luz, cheios." Era o que eu pensava.Até que, na taça dos campeões, nas meias-finais, o Benfica calhou no caminho do Marselha. Fiquei, ao início, desgostoso, porque ia defrontar o meu Benfica, o clube que os meus companheiros sabiam que eu adorava. Me lembro de Sauzée, o meu zagueiro do lado me ter perguntado: "Você vai estar em condições de jogar contra o Benfica?" Aí, senti que beliscavam o meu profissionalismo. Nos dois jogos joguei a duzentos por cento.
Depois do primeiro jogo, em Marselha, uns dias antes de jogarmos na Luz, virei para o Papin e lhe perguntei: " Papin, você quer mesmo ver o que é um estádio cheio, com 120 mil a gritar todos para o mesmo lado?" Engraçada a reacção do Papin: "Você, está querendo me meter medo, Mozer?" Não estava não e por isso lhe disse para esperar para ver. E já agora, tremer. Pois bem, chegou o dia, chegámos no estádio da Luz e fomos logo indo para os balneários. Muitos risos, muita convicção de que íamos jogar a final da Copa dos Campeões. Lembro até que Tapie disse aos jornalistas franceses que lhe podiam chamar de Bernardette se o Marselha perdesse a eliminatória.Antes de subirmos ao relvado, para o aquecimento, Papin ainda troçou de mim, dizendo que estava já "tremendo de medo". E ria-se bastante.
Os jogadores foram saindo do balneário e eu atrasei um pouco, porque estava colocando uma ligadura no tornozelo. Quando cheguei perto do túnel de acesso ao estádio, começo a ver os meus companheiros, completamente assustados e todos do lado de dentro, não querendo entrar. Só depois percebi que, nessa altura o Eusébio foi chamado ao relvado para receber uma homenagem e foi aí que o estádio quase vinha abaixo. Logo no momento em que os meus companheiros do Marselha se preparavam para entrar. Claro que voltaram atrás assustados e me perguntado: "O que era aquilo?".Aquilo respondi eu, é o INFERNO DA LUZ. Aí todos começaram a me dizer para ser eu o primeiro a avançar, subi as escadas, entrei no relvado, não fui mal recebido e quando olhei para trás, estava sozinho. Espreitando, à saída da escadaria estavam alguns dos meus companheiros do Marselha, ainda com um olhar de medo e só nessa altura começaram a entrar. No regresso às cabinas, perguntei a Papin: "Já sabes agora o que é um estádio cheio e um grande ambiente?" A resposta, nunca mais a esqueci: "Mozer, nunca vi uma coisa destas. Tudo isto é incrível. Sempre tiveste razão, o Benfica é ENORME!" Naquela noite, o Marselha perdeu, fiquei triste mas senti orgulho pelo Benfica. E já agora, naquele balneário, fui o único a ter uma vitória. Foi uma vitória moral, sobre aqueles que não acreditavam na grandeza do Benfica."

Não me importava de estar num estádio com um ambiente assim!!! Mesmo que chovesse e eu estivesse sentado em pedra gelada ou molhada...

Ah grande Benfica!!!

E que saudades do antigo estádio da luz...