domingo, 27 de janeiro de 2008

Digital vs Analógico


A febre do vinil voltou e parece ter pegado de estaca. Multiplicam-se as lojas, as edições e, é claro, o consumo.

Mas eu, apesar dos lançamentos do mini-disc e dos cd, nunca coloquei os meus vinis de parte!

Há uns dias um cohecido meu perguntava-me se eu tinha determinado disco, que ele queria ouvir (o álbum "Physical Graphiti dos Led Zeppelin", para os mais curiosos). Eu disse-lhe que sim, que tinha, mas que era em LP e não em CD. Parecia que tinha falado em servo-croata. "Em disco? Mas... em vinil? Isso ainda existe?". Pois é, para espanto do tal rapaz e para espanto se calhar de alguns dos leitores deste texto, o vinil não só não morreu como recomenda-se mais do que nunca.

Actualmente a FNAC e outras lojas já estão a vender vinis ao público. No entanto a 'moda' parece estar a pegar pois cada vez mais pessoas parecem estar a aderir (pela primeira vez ou de novo) ao vinil.

Cabe aqui uma explicação sumária das diferenças entre o som analógico (presente, por exemplo, num disco em vinil) e o som digital (presente, por exemplo, num CD.) Sumária pois não é aqui o local apropriado para me alongar e, temo, por não ser um especialista na matéria.

O som é uma onda, ou melhor um conjunto de ondas que atravessam o espaço. Essas ondas são medidas em hertz, inicialmente, mas para o caso em kilohertz (kHz). O som vai, em termos leigos, de muito grave a muito agudo. A distância que vai do som mais agudo ao mais grave é gigantesca. Seja só voz humana ou uma orquestra de 200 pessoas, uma gravação áudio contém uma quantidade enorme de informação. Esta informação reporta-se a uma amplitude sonora IMENSA, e só estou a falar daquela que os humanos captam, que não é toda. Um disco em vinil, quando prensado numa boa fábrica e cujo material sonoro venha de boas fitas analógicas, contém TODA essa informação. Toda. Por isso, quando se ouve um bom vinil ouve-se TUDO o que a banda gravou. Tudo o que eles ou elas queriam que nós ouvissemos. Um mau vinil terá praticamente tudo também, simplesmente não com a clareza e o brilho original. Eis o som analógico.

E o som digital?

Bem, por 'digital', e neste caso específico, compreende-se informação processada informaticamente e convertida em linguagem binária (zeros e uns). Acontece que a informação ocupa ESPAÇO e a informação áudio ou vídeo ocupa mesmo MUITO espaço. Nos finais dos anos 70 os engenheiros da Phillips (holandesa) e da Sony (japonesa) tentavam desenvolver um sistema sonoro baseado num medium que fosse mais pequeno que o LP, comportasse tantos ou mais minutos de música e que cuja produção ficasse barata. Assim desenvolveram, mais ou menos a meias, o CD (compact-disc, o nome diz tudo), um suporte que permitia conter até 74 minutos de música com uma qualidade, afirmavam, perfeita, e melhor ainda, eterna. Tinhamos portanto som altamente e para a vida toda. Os primeiros anúncios para televisão aos CD's reforçavam esta mensagem até ao absurdo, colocando um cão a apanhar, com os dentes, um CD atirado pelo dono. Este colocava-o a seguir no leitor e o CD estava impecável. :) Mas o que faz o CD (ou melhor, o som digital) ser pior que o vinil? Bem, a questão é até bastante simples: o mapa não é o território. O som, como foi referido atrás, é quase infinito na sua amplitude. A informação digitalizada em 0's e 1's não pode conter toda essa informação porque se o fizesse cada CD levaria meia dúzia de minutos de música.

Assim sendo, o que é feita é uma AMOSTRAGEM digital, isto é, selecionam uma amplitude determinada (no caso do CD, 44 ou 48 kHz) e é só isso que vai parar ao CD. Tudo o resto é cortado. Tudo o resto. Assim, não admira que, em casos como os álbuns "Electric Ladyland" ou "Dark Side of The Moon", tenhamos mais sons no vinil do que no CD. Tão simples quanto isso. Seja como for, o mais usual é não faltarem sons nas músicas, mas antes a sensação que fica no ouvinte perante os dois suportes.

Os seres humanos, até prova em contrário, são analógicos, não são 'digitais', e por isso reagem melhor ao som analógico. Se ouvir o mesmo álbum, nas mesmas condições e com material de igual qualidade, muito provavelmente preferirá ouvir em vinil. Testes 'cegos' (isto é, sem que os testados soubessem qual era o CD e qual o vinil) tiveram os resultados que se esperaria - a grande maioria das pessoas prefere o vinil.

O som em vinil é quase sempre descrito como mais 'quente' e mais 'profundo'.

O som digital, quando comparado com o analógico, é descrito usualmente como mais 'frio' e 'linear'.

Num outro teste, feito em discotecas americanas, foi descoberto que os clientes ficavam até mais tarde naquelas em que eram utilizados discos em vinil em vez de CD's. A razão para isto é que de facto os 48 kHz da amostragem que é feita não chegam, pois não atingem as frequências mais altas e mais baixas, ficando-se pelas centrais. As frequências mais baixas (graves) são muitas vezes inaudíveis mas MEXEM connosco, definem a percepção do som, e ficar sem elas é não ter o quadro todo à nossa frente. Por fim, e apesar de ser uma razão talvez menor, há que referir o trabalho gráfico. Um LP é ENORME, e a capa do disco é GRANDE. As fotos dos ídolos são MAIORES e as letras não ficam em corpo 8! Em relação à aquisição de gira-discos e dos discos em si, o cenário está cada vez melhor. Algumas das megastores em Lisboa e Porto já começam a ter (e encomendam se o cliente pedir) as edições em vinil dos álbuns que vão saindo. Existem ainda lojas da especialidade, mas só nas grandes cidades. Quem tiver acesso à internet e um cartão de crédito, só precisa de ter dinheiro na conta. A maior parte das grandes lojas on-line tem uma secção bem recheada de vinil e existem, claro sites epecializados. Em relação ao 'hardware' :), está disponível nas lojas de alta-fidelidade (se bem que num hipermercado pode comprar um gira-discos sony por 75 euros), de 250 eiros até ao infinito. Se, tal como eu, não tiver ouvido de purista, qualquer gira-discos de qualidade serve.

O mercado em segunda mão também é para ter em conta, pois arranjam-se gira-discos clássicos EXCELENTES a uma parcela do preço que valem. Se depois de tudo isto não ficou convencido, ÓPTIMO!

O vinil de facto não presta e tudo o que tem a fazer é dar-me todos os LP's que tiver aí em casa que eu vou busca-los de borla. Sou amiguinho ou não sou?

Dizem que,por exemplo,as válvulas são coisas obsoletas, coisas do passado, mas e para áudio? Aí a história é outra, os valvulados são as melhores aparelhagens de som do mundo! Mais um ponto para os analógicos! Tenho uma última coisa a dizer... já ouviram falar de LP pirata? Mais um ponto para ele e para os analógicos!

1 comentário:

Anónimo disse...

Antes de mais, os meus sinceros parabéns por este excelente artigo... cativou-me do princípio ao fim... É destes posts que os blogs precisam... :)

Depois, resta-me acrescentar que me aguçaste - e de que maneira - a vontade de adquirir um novo leitor de vinil, já que o meu é um dos da "velha guarda", talvez da década de 70 ou de 80, e encontra-se bastante velhinho e pouco estimado.

Tal como referes no artigo, há muitos pontos a favor do vinil, sobretudo se formos verdadeiros amantes da música e não meros usufrutuários ocasionais. Ou seja, é tudo uma questão de qualidade.
No meu caso pessoal, não me vejo a conseguir privar-me do CD, principalmente devido ao seu carácter prático. Esta é, na minha opinião, uma das mais-valias do "compactado", já que, na nossa sociedade actual, temos tudo virado para este formato. Por exemplo, não vais levar um vinil para ouvir no carro (coisa que faço com muita regularidade com os CD's), não o transportas com tanta facilidade e não tens a possibilidade de o ouvir praticamente em todo o lado. O CD é compactado não apenas em termos de informação musical (daí faltar aquele "algo" presente no vinil), mas também no seu tamanho (e este dá um "jeitão", admitamos).
Contudo, há situações e situações... e se estou tranquilamente no meu quarto a ouvir música, então quero fazê-lo nas melhores condições possíveis e usufruir de todas as potencialidades que possa. Daí estar a ponderar "virar-me" também para o vinil.
Depois, há ainda outro factor de peso, tal como referes no artigo, que é o arranjo gráfico e artístico, que eu tanto prezo e admiro. Esta característica já me leva a tentar adquirir os CD's originais das minhas bandas preferidas ou daquelas que apostam mais nesta vertente, e, por essa mesma razão, levar-me-á também a começar a minha colecção de vinis seguindo esta lógica.

Haveria muito a dizer e a pôr e contrapor na coluna das vantagens e desvantagens do CD e do vinil, mas, resumindo e concluindo muito sinteticamente, creio haver espaço para os dois.

E, para terminar conforme comecei, deixo mais um elogio ao artigo, "digno" de figurar numa revista de música ou num jornal.