quinta-feira, 13 de março de 2008

BRIAN CLOUGH - "O VERDADEIRO SPECIAL ONE"













Quando eu comecei a ligar alguma coisa ao futebol, uma equipa reinava na Europa do futebol: o Nottingham Forest. Desde então que a minha admiração por esta equipa permaneceu ao longo dos anos, de tal forma que ainda hoje, quando eles estão na League One, todos os fins-de-semana me preocupo em ver qual foi o resultado do jogo deles. Na altura não o sabia, mas vim depois a descobrir a dimensão deste feito ao aperceber-me que o Nottingham Forest não é mais que um pequeno clube das Midlands de Inglaterra, com uma dimensão em nada comparável à de clubes como o Liverpool, Man Utd, ou Arsenal. E não fazia também ideia na altura de quem era o homem que tornou tudo isto possível, o autor deste autêntico milagre futebolístico: Brian Clough. Um personagem único na história do futebol, que ganhou o direito a ser considerado uma verdadeira lenda. É sobre ele que este post fala.
Brian Clough ganhou duas taças dos campeões com o Freamunde de Inglaterra, o Nottingham.
Brian Clough chegou ao Nottingham Forest em Janeiro de 1975.

Apesar dos seus 39 anos, não era um desconhecido no futebol.

Como jogador, numa carreira que terminou precocemente aos 27 anos após uma rotura dos ligamentos cruzados do joelho direito (que na altura significava o fim automático de quaisquer aspirações a jogar futebol), atingiu a impressionante marca de 251 golos em 274 jogos (incluindo 24 hat-tricks) ao serviço de Middlesbrough e Sunderland, sendo internacional inglês.

Como manager, já tinha conseguido o feito de levar o pequeno Derby County a campeão inglês e às meias finais da Taça dos Campeões Europeus, sendo eliminado pela Juventus em circunstâncias suspeitas. Demitiu-se do Derby em conflito com a direcção (o seu desprezo por dirigentes de futebol era notório, e os confrontos frequentes), e assumiu o controlo do Leeds United, uma das potências futebolísticas inglesas de então, no início da época de 1974/75 (pelo meio teve uma breve passagem, sem sucesso, pelo Brighton, na Division Three).

Assim que chegou, disse aos jogadores do Leeds que deviam deitar todas as medalhas que tinham ganho para o lixo, porque só as tinham ganho com batota (resultado de ter visto, numa ocasião, um árbitro entrar no gabinete do manager do Leeds, Don Revie).

Saiu 44 dias depois, com uma indemnização que, de acordo com ele, lhe permitiria não ter que voltar a trabalhar mais.

E assim chegou ao Nottingham Forest, um clube quase desconhecido, perto do fundo da tabela da Second Division, e para onde nenhum jogador com algum prestígio desejaria ir jogar. A primeira compra que fez quando lá chegou foi… um fogão novo, com dinheiro do seu bolso. Segundo as suas palavras:

”Well, the one the club had was knackered. But, frankly, I nearly picked it for the team ‘cos it was better than most of the squad.”

Brian Clough tinha uma obsessão: não sofrer golos. Como muitos treinadores, acreditava que uma equipa se começava a construir de trás para a frente (no caso dele, era resultado de experiências desagradáveis enquanto jogador, já que se irritava ao marcar golos em série e ver que os golos não serviam para nada porque a equipa sofria tantos ou mais do que ele conseguia marcar). Além disso, acreditava que era possível ganhar e jogar simples e bonito, entretendo o público.

Afastou-se do estilo típico do futebol britânico na altura, de bola pelo ar e kick and rush:

”If God had wanted us to play football in the clouds, he’d have put grass in the sky.”

Os seus jogadores estavam proibidos de discutir com árbitros, de chutar bolas para a bancada, simular lesões ou queimar tempo. Não admitia qualquer tipo de desafio à sua autoridade por parte dos jogadores. Sobre isso dizia:

”We talk about it for 20 minutes, and then we decide that I’m right.”

Quando Martin O’Neill, insatisfeito por estar a jogar pelas reservas, lhe foi pedir explicações, recebeu a seguinte resposta:
”It’s quite simple, young man. You’re too good to play for the third team.”

Como quase todos os treinadores que ficaram na história, Clough era um excelente gestor de homens, sabendo motivar ou espicaçar os seus jogadores na altura certa, e utilizando métodos pouco convencionais. Em 1979, na véspera da final da League Cup contra o Southampton, achou que os jogadores estavam demasiado tensos. Então, obrigou os jogadores a irem com ele aos bares e a apanharem uma bebedeira. Segundo ele, preferia ter jogadores ressacados do que jogadores tensos e nervosos. O Forest venceu a final por 3-2.

Um ano depois, trouxe o seu fiel adjunto Peter Taylor para o clube, refazendo a dupla de sucesso de Derby (“I’m the shop window, Pete’s the goods at the back.”). E no final da época de 1976/77, conseguiu a promoção à First Division, conquistando também o primeiro dos troféus ao serviço do Forest, a Anglo-Scottish Cup. Um troféu de pouca importância, mas que Clough sempre considerou ser o início de tudo, porque a maioria dos seus jogadores nunca tinham ganho nada, e aquele troféu deu-lhes a primeira experiência do que era ser um vencedor. Segundo ele, os jogadores gostaram, e ficaram 'viciados'. Taylor e Clough tinham o dom de conseguir tirar o máximo dos seus jogadores, de fazer estrelas de jogadores praticamente desconhecidos, e de relançar carreiras de jogadores considerados acabados para o futebol.

Foi assim que construíram a equipa do Forest para a época de 1977/78.

Resgataram, por exemplo, Peter Shilton ao Stoke, na Second Division (só a história da contratação do Shilton daria um post separado).

Contrataram o ponta-de-lança Kenny Burns ao Birmingham, e Clough viu nele um avançado mediano, mas um defesa de eleição. A jogar na defesa foi eleito o jogador do ano.
A verdade é que nessa época de 1977/78, vindos da segunda divisão, com uma equipa de desconhecidos e ‘acabados’, naturalmente ninguém levava o Forest a sério num campeonato que parecia ganho à partida pelo campeão europeu Liverpool (que revalidou esse título).

Ao fim de dezanove jornadas, o Nottingham Forest ocupava a primeira posição, com um ponto de vantagem sobre o Everton, e seis sobre o Liverpool. Ainda assim, e para fúria de Clough, continuavam a não os considerar candidatos, e a levar as declarações dele que o Forest, e não o Liverpool, era a melhor equipa inglesa como apenas mais um dos seus devaneios. Claro que Brian Clough utilizou isso mesmo como forma de espicaçar os seus jogadores.

E foi assim que o Forest se deslocou a Old Trafford. Quando os noventa minutos terminaram, e o marcador mostrava Man Utd 0 – Nottingham Forest 4, as pessoas começaram a perceber que aquilo era mesmo a sério. Seguiu-se um empate 1-1 com o Liverpool, e uma vitória por 1-0 sobre o Everton.

E daí por diante: 2-0 ao Arsenal, 3-1 ao Chelsea, 2-0 ao Newcastle e ao West Ham, o Forest foi imparável. No final, e num campeonato em que a vitória valia dois pontos, o Forest, vindo da segunda divisão, foi campeão com sete pontos de avanço, e o menor número de golos (24) alguma vez sofridos por um campeão. Foi também estabelecido um record de 42 jogos sem perder, que só viria a ser batido pelo Arsenal, 26 anos depois.

Ao título o Forest juntou a League Cup desse ano.

Pegar num clube como o Derby County e levá-lo a campeão e a uma meia-final da taça dos campeões europeus num jogo viciado a favor da Juventus, já era um feito quase inacreditável. Pegar no Nottingham Forest e repetir a façanha era uma coisa do outro mundo. Mas Clough e Taylor não ficariam por aqui.

Na época seguinte, a primeira eliminatória da Taça dos Campeões Europeus colocou o bicampeão Liverpool frente ao Forest de Clough.

O Liverpool foi despachado com 2-0 no total das duas mãos.

Seguiram-se AEK (7-2), Grasshoppers (5-2), e Colónia (4-3, com uma vitória por 1-0 na Alemanha graças a uma exibição épica do Shilton, após um empate 3-3 no City Ground na primeira mão).

A final foi ganha por 1-0 ao Malmö, com um golo de Trevor Francis, o primeiro jogador da história a custar um milhão de libras (Clough insistia que apenas tinha pago £999.999 por ele, porque um milhão era um valor obsceno).

Em três anos consecutivos, Brian Clough levara uma equipa da segunda divisão ao topo da Europa. Não contente com isso, repetiu o título europeu na época seguinte (vitória por 1-0 em Madrid frente ao Hamburgo), em que o melhor marcador da equipa foi Garry Birtles, um aplicador de alcatifas que Clough tinha descoberto a jogar numa liga amadora de fim-de-semana e por quem pagou duas mil libras.

O capitão dessa equipa que ergeu as duas taças de campeã europeia, John McGovern, era um jogador que fora 'raptado' à universidade por Clough e Taylor, que o convenceram a abandonar os estudos e a assinar pelo Hartlepool, da Fourth Division, quando Clough era o treinador, doze anos antes.
O fim da relação com Peter Taylor em 1982, e o progressivo alcoolismo de Brian Clough acabaram por significar o fim da ‘magia’. O Forest viria a conseguir conquistar mais duas Taças da Liga, em 1989 e 1990, mas não conseguiu repetir os feitos do passado. No final da época de 1992/93, a última da carreira de Brian Clough, e da primeira edição da actual Premier League, Clough sofreu a ignomínia de ser despromovido pela primeira vez na vida. Para trás ficou uma carreira única, com duas enormes frustrações: nunca ter conquistado a FA Cup (o mais perto que esteve foi em 1991, na final que ficou tristemente célebre pelas entradas animais e consequente lesão de Paul Gascoigne e que o Forest perdeu por 2-1 no prolongamento); e nunca ter sido escolhido para seleccionador inglês.

Em 1977 chegou a ser entrevistado para o lugar, e seria a escolha óbvia, mas a sua personalidade conflituosa, o desprezo absoluto que sentia por dirigentes de futebol (em particular pelos dirigentes da FA, que acusava de nunca terem jogado futebol na vida) e o hábito de dizer o que muito bem lhe apetecia ("They didn't want an England manager who was prepared to call the italians cheating bastards.") eram uma garantia que seria muito difícil ser escolhido – deram-lhe o posto de seleccionador de esperanças, uma espécie de prémio de consolação.

Brian Clough ficou também famoso por quase tudo o que dizia. As pessoas estavam sempre na expectativa sobre o que ele diria quando era entrevistado, e muitas das suas afirmações ficaram para a posteridade, conhecidas como ‘cloughisms’. Aqui ficam alguns dos exemplos:

”They say Rome wasn’t built on a day, but I wasn’t on that particular job.” - a sua habitual modéstia.

”Players lose you games, not tactics. There’s so much crap talked about tactics by people who barely know how to win at dominoes.”– sobre os comentadores de futebol.

”I can’t even spell spaghetti, never mind talk italian. How could I tell an italian to get the ball? He might grab mine!” - sobre a invasão de estrangeiros no futebol inglês.

”For all his horses, knighthoods and championships, he hasn’t got two of what I’ve got. And I don’t mean balls!” - sobre Alex Ferguson.

”I believe Lennox Lewis didn’t see that punch coming last Sunday, and the skipper of the Titanic had some excuse for not spotting an iceberg if it was dark. But I couldn’t believe my big ears when Fergie said he had not seen Keane’s tackle on Haaland.” - sobre a ‘visão selectiva’ de Alex Ferguson.

”At last England has appointed a manager who speaks English better than the players.” – sobre Eriksson.

”The Derby players have seen more of his balls than the one they’re meant to be playing with.” - quando um streaker invadiu o campo durante um jogo.

”That Seaman is a handsome young man but he spends too much time looking in his mirror rather than at the ball. You can’t keep goal with hair like that.” - sobre David Seaman.

”He’s like Muhammad Ali but without the talent. He floats like a butterfly and tackles like one too.” – sobre o jogador Trevor Brooking.

”They say Al Capone did some good things in life. Trouble was, he would go out in the streets and shoot people. Keane is becoming United’s Al Capone.” – sobre Roy Keane.

”Acne is a bigger problem than injuries.” - sobre a juventude da sua equipa.

”I bet their dressing room will smell of garlic rather than liniment over the next few months.” - sobre a quantidade de jogadores franceses no Arsenal de Wenger.

”They caress a football the way I dreamt of caressing Marilyn Monroe.” - ainda sobre o Arsenal de Wenger.

”If a player had said to Bill Shankly ‘I’ve got to speak to my agent’, Bill would have hit him. And I would have held him while he hit him.” - sobre os agentes dos jogadores.

”Beckham? His wife can’t sing and his barber can’t cut hair.” – sobre Beckham e a mulher.

”Football holligans? Well, there are 92 club chairmen for a start.” – a sua tradicional antipatia por dirigentes.

Enfim, tal como disse, este post tem a ver com uma figura que eu me habituei a venerar como um dos melhores, se não mesmo o melhor treinador de futebol de sempre, e que nos deixou completam-se três anos.

Mostrem-me um treinador que em quatro anos leve uma equipa da segunda divisão a bicampeã europeia e talvez eu mude de opinião.

Isto dos melhores tem que se lhe diga, e cada um terá a sua opinião. Eu limito-me a concordar com o próprio Brian Clough, e a sua tradicional modéstia:

”I wouldn’t say I was the best manager in the business. But I was in the top one.”

por D`Arcy
Bobby Charlton:
"In the '80's I followed Nottingham Forest everywhere in England and Cloughie was always applauded by home supporters, well most of them, this never happens with these managers like Mourinho. Brian Clough was different because his teams didn't cheat, never argued with refs and respected the opposing team whatever the outcome and most important of all they played very exciting football on the floor. He used to fine players a weeks wages if they got booked for arguing with officials, I remember him substituting Stuart Pearce - who was the England captain at the time, just for a late tackle on an opposing player. If you doubt any of this, just search google for stories about Mr Clough.By example, Mourinho is a good manager, but Brian Clough has 2 European cups to his name, as many as Ferguson, Wenger and Mourinho combined. With a poor team, without money, in a short time.
Brian Clough is, simply the best coach of all time."

1 comentário:

Anónimo disse...

Antes de mais deixar o meu tributo por este excelente artigo de opiniao por ti redigido meu grandes amigo.

Fiquei realmente a conhecer de forma detalhada este senhor do futebol do mundial nao reconhecido por muitos orgãos de comunicação scoial e associaçoes federativos tal como UEFA E FIFA. O trabalho por ele desenvolvido é sem duvida e arrisco -me a disser um dos trabalhos ao nível de treino, disciplina, estrategia motivacional e gestão de recursos humanos mais brilhantes na história da teoria e metedologia do treino à escala mundial.
Pelo que me dá a entender e compreender deste artigo, este senhor revolucionou de forma fantastica a forma de pensar, agir,gerir um clube de futebol, envolvendo direcção, equipa tecnica, jogadores, staff e adeptos.
Nos tempos mais recentes, e refiro me desde a final da decada de 80 e inicio do seculo XXI e corrigi-me se estou enganado, o treinador de maior sucesso e com maior similirieadade com Brian Clough foi José Mourinho, e sendo benfiquista, nao posso deixar de mencionar o meu tributo para com ele. O trabalho realizado ao serviço do Futebol CLube Leiria, alcançado um fantastico quarto lugar com jogadores desconhecidos do mundo futebolistico e tornando-os jogadores de elite europeu( refiro-me a Derlei, Nuno Valente, Paulo Ferreira..entre outros), tal como o dupla conquista europeia Taça UEFA e LIGA DOS CAMPEOES, deixando pelo caminho grandes equipas com um poderio economico e financeiro incalculavel para o futebol portugues, com uma equipa de tostoes transforma-o em equipa de milhoes e a primeira potencia do futebol europeu e mundial.
Um ponto em comum entre estes dois senhores do futebol mundial, é que ambos tinham os seus momentos e devaneios de loucura como ao mesmo momento de maior lucidez para enfrentar as maiores adversidades e situaçoes mais complexos que o futebol lhes impingia, por isso: " nao interessa ser bem ou mal falado....o que interessa é que falem"
Axo que é um excelente ditado popular que definiu e define estes dois monstros/senhores do futebol...

Grande abraço francisco

ASS:André Sá 2008/03/27