sábado, 26 de janeiro de 2008

O nosso verdadeiro estádio.

A 1 de Dezembro de 1954, o Benfica inaugurou, pomposamente, o Estádio de Carnide. Só mais tarde lhe haveria de chamar da Luz. Joaquim Bogalho, o «homem do estádio», emocionou-se de tal modo que, para não desfalecer, teve de ser amparado pelos seus colegas de Direcção. Ribeiro dos Reis considerá-lo-ia, pela sua acção em busca do sonho... «o benfiquista número 1». E, naturalmente, houve futebol sobre o relvado ainda fresco. Ganhou o F. C. Porto ao Benfica por 3-1, como afinal, ganhara o Benfica ao F. C. Porto por 7-2 na inauguração das Antas. Enfim, festas trocadas... O festival de inauguração proporcionou uma receita de 1300 contos, a maior renda arrecadada até esse dia num espectáculo desportivo por um clube português.


Terceiro Anel: O Inferno da Luz

A direcção de Maurício Vieira de Brito não descurava a progressiva melhoria das instalações do clube e, após a inauguração da iluminação do Estádio, foi aberto aos adeptos o famoso "terceiro anel".

A nova bancada cedo se transformou na ilustração viva do carisma e da paixão que, desde então, se associam à "catedral" benfiquista.Como alguém escreveu com propriedade, o "terceiro anel" cedo foi visto como a "sagração de uma solidariedade", como o resultado de um esforço colectivo de uma geração de benfiquistas, à imagem da própria construção do Estádio. O novo "terceiro anel" funcionou sempre com uma espécie de décimo segundo jogador, um elemento que se viria a tornar decisivo em muitas e importantes vitórias do futebol benfiquista pelos tempos fora.

O causídico e antigo dirigente do clube, Alfredo Gaspar, descreveu no "Público" essa mística associada ao "inferno da Luz": "Era muito bonito, porque se choravam lágrimas de alegria, mas quem pegasse nelas e as atirasse ao ar, via que se transformavam no céu em pequeninas estrelas brilhantes.

Nesses momentos, os atletas do clube eram sublimes".

Construído com a ajuda e um enorme sacrifício de muitos sócios e simpatizantes do Benfica, a edificação desta obra fica registada como um marco que simboliza toda a grandeza e a enorme mística do clube mais popular de sempre em Portugal, um dos clubes a nível mundial com mais adeptos, ( se não for o maior), e um dos mais prestigiados de toda a Europa.

O nosso antigo estádio da Luz, quando chovia, fazia frio, sentavamo-nos em pedra, mas o estádio tinha bem mais gente a ver jogos do que nos estádios novos, pelo menos no caso do Estádio da Luz...

Que saudades...


Transcrevo aqui um belo texto de Mozer:

"É preciso sair do país para enxergar o prestígio e o tamanhão do Benfica em todo o mundo. Estive três anos em França, no Marselha, joguei num estádio fantástico, o Vélodrome, convivi com grandes jogadores como Papin e Waddle, mas o Benfica estará sempre no meu pensamento.Os meus companheiros de equipa não percebiam muito o meu entusiasmo pelo clube, já que sabiam pouco do futebol português, embora reconhecendo o tremendo historial do Benfica.
Durante os primeiros tempos tive de aturar os comentários de Papin, logo desde o início, sempre que jogávamos em casa.Uns dias antes de cada jogo, o Papin chegava para mim e me dizia: "Mozer, vais ver o que é um estádio cheio e um ambiente terrível."
Terrível para os outros. Não sei se o Papin dizia isso para me intimidar, já que era novo no clube e não percebia muito daquela conversa. Mas para mim, sempre pensava: "Este cara precisava de jogar no Maracanã ou no estádio da Luz, cheios." Era o que eu pensava.Até que, na taça dos campeões, nas meias-finais, o Benfica calhou no caminho do Marselha. Fiquei, ao início, desgostoso, porque ia defrontar o meu Benfica, o clube que os meus companheiros sabiam que eu adorava. Me lembro de Sauzée, o meu zagueiro do lado me ter perguntado: "Você vai estar em condições de jogar contra o Benfica?" Aí, senti que beliscavam o meu profissionalismo. Nos dois jogos joguei a duzentos por cento.
Depois do primeiro jogo, em Marselha, uns dias antes de jogarmos na Luz, virei para o Papin e lhe perguntei: " Papin, você quer mesmo ver o que é um estádio cheio, com 120 mil a gritar todos para o mesmo lado?" Engraçada a reacção do Papin: "Você, está querendo me meter medo, Mozer?" Não estava não e por isso lhe disse para esperar para ver. E já agora, tremer. Pois bem, chegou o dia, chegámos no estádio da Luz e fomos logo indo para os balneários. Muitos risos, muita convicção de que íamos jogar a final da Copa dos Campeões. Lembro até que Tapie disse aos jornalistas franceses que lhe podiam chamar de Bernardette se o Marselha perdesse a eliminatória.Antes de subirmos ao relvado, para o aquecimento, Papin ainda troçou de mim, dizendo que estava já "tremendo de medo". E ria-se bastante.
Os jogadores foram saindo do balneário e eu atrasei um pouco, porque estava colocando uma ligadura no tornozelo. Quando cheguei perto do túnel de acesso ao estádio, começo a ver os meus companheiros, completamente assustados e todos do lado de dentro, não querendo entrar. Só depois percebi que, nessa altura o Eusébio foi chamado ao relvado para receber uma homenagem e foi aí que o estádio quase vinha abaixo. Logo no momento em que os meus companheiros do Marselha se preparavam para entrar. Claro que voltaram atrás assustados e me perguntado: "O que era aquilo?".Aquilo respondi eu, é o INFERNO DA LUZ. Aí todos começaram a me dizer para ser eu o primeiro a avançar, subi as escadas, entrei no relvado, não fui mal recebido e quando olhei para trás, estava sozinho. Espreitando, à saída da escadaria estavam alguns dos meus companheiros do Marselha, ainda com um olhar de medo e só nessa altura começaram a entrar. No regresso às cabinas, perguntei a Papin: "Já sabes agora o que é um estádio cheio e um grande ambiente?" A resposta, nunca mais a esqueci: "Mozer, nunca vi uma coisa destas. Tudo isto é incrível. Sempre tiveste razão, o Benfica é ENORME!" Naquela noite, o Marselha perdeu, fiquei triste mas senti orgulho pelo Benfica. E já agora, naquele balneário, fui o único a ter uma vitória. Foi uma vitória moral, sobre aqueles que não acreditavam na grandeza do Benfica."

Não me importava de estar num estádio com um ambiente assim!!! Mesmo que chovesse e eu estivesse sentado em pedra gelada ou molhada...

Ah grande Benfica!!!

E que saudades do antigo estádio da luz...

3 comentários:

Anónimo disse...

Aquando da inauguração, em 1954, a Luz tinha 50 mil lugares.
A partir da construção do Terceiro Anel, em 1960, passou a ter cerca de 80 mil lugares.
Teve 137 000 pessoas com o Steaua de Bucareste e 130 000 com o Marselha.

Com a conclusão do Terceiro Anel em 1985, o Estádio da Luz fica com capacidade para 120 mil espectadores, tornando-se assim o maior estádio da Europa e o 3º maior do Mundo, a seguir ao Maracanã e ao Morumbi...
E esses ainda estão de pé.
É incrível como nessa altura se colocavam com facilidade bem mais de cem mil pessoas num estádio, várias vezes por ano (Porto, Sporting, competições europeias), e agora é tão difícil encher estádios com bem menos lotação...
Se o estádio do wembley fosse propriedade de algum historico clube Inglês de certeza que não caía, mas como era da federação caíu.
Agora o nosso estádio maior da europa e terceiro maior do mundo, propriedade do maior clube do mundo, o Benfica,um estádio que devido ao seu gigantismo ganhava jogos,pois assustava os adversários com o mar de gente Benfiquista, foi abaixo em vez de ser melhorado.Como foi possível? O do Nou Camp e do Bernabeu a ver se vão! Acham que os adeptos do Real e do Barcelona permitiriam?
Nem que tivessem um estádio que em vez de bancadas fossem sofás com serviço de lagosta e caviar.

Anónimo disse...

O nosso Benfica é muito grande!
Nessa noite podia vir qualquer equipa que nós ganhávamos!
Grande estádio, só superado pelos dois estádios brasileiros que referiste.
O brasil é a capital mundial do futebol, e a seguir era Portugal graças ao Benfica, ao nosso antigo estádio,às nossas vitórias.
Grande abraço Francisco.
Rui.

Leandro Morais disse...

Olá meu grande amigo de sempre. Em primeiro lugar quero felicitar.te pelo blog.

Em relação ao mitico estádio da luz, que pudemos mais dizer...
Era um monumento e tinha uma atmosfera magnífica.É verdade que os adversários que por lá passavam até tremiam..
Eu, como sabes, tive o felicidade de assistir a grandes noites europeia na Catedral, jogos como: Benfica-Roma, Benfica-Universidade de Craiova(os mais novos nem imaginam que equipa é esta amigo!!),Benfica-Seteaua de Bucareste entre muitos outros. Mas Aquele que mais me marcou, foi o Benfica-Marselha, que tu falas no texto. Magnifico Jogo de Futebol, estádio super-lotado, Grandes Jogadores ( aquela equipa do O. de Marselha era simplesmente a melhor do mundo). Vou deixar aqui o nome dos jogadores que actuaram, recordas.te? Vamos Lá:
Pelo Glorioso: Silvino;José Carlos, Samuel, Aldair e Veloso;Paneira, Thern, Hernani e Valdo; Lima e Magnusson. Entraram, Pacheco e Vata.
Pelo O.de Marselha: Cataneda; Amoros, Mozer,Boli e Di Meco; Sauzé, Deschamps e Tigana; Waddle, Franciscoli e Papin.
Mas o nosso Benfica ganhou..
É por esta e outras noites que sinto saudades do velhinho estádio da LUZ.
Um Grande Abraço do amigão Leandro Morais